Nejishiki e O Homem Sem Talento, de Yoshiharu Tsuge

A Veneta lança este mês Nejishiki, coletânea mangá escrita e ilustrada por Yoshiharu Tsuge, o mesmo autor de O Homem Sem Talento. Com contos publicados originalmente entre 1965 e 1984 pela Seirindo, o material foi reunido em 1994 pela Shogakukan no Japão.

Em junho de 1968, a célebre revista japonesa Garo dedicou uma edição especial a Yoshiharu Tsuge, já um dos autores mais amados pela geração de jovens que, à época, tomavam as ruas e desejavam revolucionar o Japão. Como que em resposta a esse movimento, produziu para essa edição da Garo uma história enigmática como um sonho – ou como um pesadelo – a respeito de um rapaz em busca de cura para um ferimento misterioso.

O impacto dessa HQ, chamada Nejishiki foi imenso não apenas nos mangás underground, mas também naqueles do mainstream. Mais que isso: desde sua publicação, essa obra provocou inúmeras reações e gerou diversas interpretações, tanto de leitores e outros quadrinistas, quanto de psicólogos, acadêmicos, escritores, artistas e poetas.

A obra também inspirou diversos outros quadrinhos e adaptações para outras linguagens, inclusive videogames e um filme, de 1998, estrelado por Tadanobu Asano, célebre por seu papel na série Xógum: A Gloriosa Saga do Japão. Depois de Nejishiki, Tsuge seguiu em sua revolução permanente, com quadrinhos que surpreenderam o mundo dos mangás. Capa dura com 224 páginas.

Confira também os detalhes de O Homem Sem Talento (Muno no Hito), mangá coletado pela primeira vez no Japão em 1987 pela Nihon Bungeisha e republicado em 1998 pela Shinchosha. No Brasil, foi lançado em 2019 no Brasil pela Veneta.

Originalmente publicado em 1985 no Japão, O Homem Sem Talento é um trabalho icônico do gênero mangá watakushi (“quadrinhos do eu”), como são conhecidos os quadrinhos autobiográficos japoneses, cujo pioneiro é justamente o próprio Yoshiharu Tsuge. O protagonista, alter-ego do desenhista, é um autor de mangá que se recusa a comprometer seu trabalho e ceder às pressões da indústria editorial. Diante das vicissitudes da existência, ele parece determinado a tornar sua vida uma estranha ode ao fracasso, vendendo pedras retiradas de um rio perto de sua casa. Pedras que ninguém parece ter interesse em comprar.

De maneira lenta, mas persistente, o “homem sem talento” se coloca à parte de uma sociedade que não lhe interessa mais, enquanto sua esposa insiste em vão para que ele encontre uma maneira de dar uma vida digna à sua família. Ao longo das páginas, Tsuge transforma essa história de fracasso em um poema assustador e desesperado, mas com um toque de humor e uma irônica redenção.

Aclamado, influente e muito estudado, Yoshiharu Tsuge era pouco conhecido dos leitores ocidentais. Mas, nos últimos anos, foram anunciadas diversas edições europeias de suas obras e, nos Estados Unidos, seus primeiros livros foram lançados no início de 2020. Assim, essa edição brasileira de O Homem Sem Talento foi a primeira das Américas! Capa dura com 240 páginas.

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